O pior jornalismo que se pode praticar num jornal tem uma característica: a descrição de idéias simplistas, que se limitam à superficialidade do fato. A queda da audiência dos impressos, a meu ver, tem muito a ver com isso. A reportagem ligeira, que antes do advento da internet era praticada nos jornalões, ganhou espaço na web. Basta verificar as notícias mais lidas em sites como BBC [veja as top stories agora] ou CNN [most popular] e percebe-se que a audiência online prefere temas leves, com notícias que nem mereceriam estar na última página de um diário. Evidentemente esse "público digital" ainda está em fase de formação e esse quadro pode mudar em pouco tempo. No impresso, ao contrário, já há uma audiência formada por longos anos de estrada e continuamos a repetir fórmulas do passado. O jornalista ocupa-se mais hoje em dissimular a conjuntura que analisá-la com profundidade. Vejamos a capa da Folha de S. Paulo desta quinta (14.2.2008). Entre as chamadas, temos "Governo propõe alteração que deverá permitir supertele", "Novo líder tucano apóia candidatura de Alckmin em SP" e "Kassab proíbe charuto em bares e restaurantes". São todas notícias que estavam ontem no UOL. O pior é que a primeira apresenta um fato que se limita a uma proposição do governo e pode causar um fato futuro no setor das teles. E depois os jornalões reclamam da redução da audiência... Danton Jobim (foto), ex-presidente da ABI e senador da República, escreveu uma vez que se as sobras de uma edição fossem editadas dariam um novo jornal com notícias mais complexas, de "verdades que não se dizem ou não se devem dizer".
Um texto de Paulo Freire vem bem a calhar:
como sujeito da reinvenção,
mas o outro com quem tu te encontras.
No fundo, viver é recriar.
É por isto que a recriação já não mais
nem vive, já é a existência"
2 comentários:
Compro jornais frequentemente e há dias em que o noticiário é tão velho que até acredito estar a receber o exemplar de ontem...
O relacionamento do jornalista experiente, mas que desconhece as novas ferramentas, com o jovem jornalista recém-formado, expert no ciberespaço, só vai ser lucrativo em termos profissionais se os dois lados aprenderem um com o outro. Ou seja: transfusão concomitante de experiência e know-how tecnológico entre as partes.
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