Dois jornalistas dão de cara na rua. Os dois estão cabisbaixos.
– O que é notícia, brother?
– Meu, não sei. Quer dizer, eu achava que sabia, mas acho que desaprendi.
Na faculdade, eles aprenderam que notícia não é tudo que acontece. Atualidade, relevância e outros itens menos votados estão entre as definições para o que pode ser notícia ou não. Mas um é fundamental: o fato, para ser relevante para o jornalismo, precisa produzir significativas alterações na vida das pessoas.
– Você viu as manchetes dos jornais hoje?
– Vi e fiquei assim.
– Efemeridades...
– Lá vem você com esse papo de biba...
– Não, rapá. Tô falando do noticiário. Parece aquela história do ônibus. Tirando o motorista e o cobrador, o resto é tudo passageiro.
Efêmero. [Do gr. ephémeros.] Adj. 1. Que dura um só dia. 2. De pouca duração; passageiro, transitório...
in Novo Dicionário da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque.
– Tá aqui na Folha: "Ministro admite uso eleitoral do PAC".
– Essa aí até passa. A do Estadão foi "Polícia apreende computadores da Casa Civil"...
– Vamos parar. Se chegarmos aos populares, o negócio piora.
– No Agora a machete foi o vídeo do pai e da madrasta da menina...
– Num falei pra parar.
– Tá. Parei. Mas não dá pra mudar a minha natureza.
– Sem querer parafrasear Deus, mas já parafrasenado, Ego sum qui sum.
– É. Aí vale o plural. Somos o que somos, mesmo se trocarmos o jornalismo por outro negócio.
– Vamos fazer uma sociedade?
– Podíamos abrir um boteco...
PS: Ego sum qui sum: Eu sou quem sou, tradução latina do Velho Testamento das palavras de Deus a Moisés no Monte Sinai.
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Ego sum qui sum
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário