O Pulitzer é um prêmio que nas últims edições fez escolhas equivocadas, mas este ano parece se redimiu de alguns desses pecados, na categoria "Explanatory Reporting" (algo como Reportagem explicativa), com a premiação da série de reportagens de Amy Harmon, do New York Times, "A era do DNA" ("The DNA Age"). A convergência de ciência e tecnologia nesta área vem provocando uma revolução silenciosa e distante das redações que pode resultar num mundo melhor ou pior no futuro. Apesar de sua importância, pouca cobertura realmente eficiente e desapaixonada ocorreu. Mas a série de Harmon é um alento, porque disseca o que vem sendo feito pelos pesquisadores à luz das pessoas, dos cidadãos que a utilizam para coisas como descobrir sua ancestralidade, prevenir doenças como câncer e até descartar embriões de futuros filhos com possibilidade de doenças hereditárias.
A série de 16 reportagens, que teve a última matéria publicada dia 3 deste mês, se iniciou em 2006, com "Seeking Ancestry in DNA Ties Uncovered by Tests", algo como "Busca de linhagem ancestral em cadeias de DNA descobertas em testes", sobre pessoas que pagam para descobrir suas origens étnicas. Conta a história de Alan Moldawer, que adotou os gêmeos Matt e Andrew ainda garotos. Na hora de os dois irem para a faculdade, Mr. Moldawer achou que identificar a origem deles poderia lhes dar alguma vantagem. O resultado chegou depois do processo seletivo e concluiu que os gêmeos têm genes 9% nativos da América e 11% do nordeste africano, além da linhagem européia. O pai adotivo concluiu que isso poderia gerar algum tipo de ajuda financeira para os garotos.
A pesquisa de ancestrais não é precisa. O DNA que carregamos é o resultado de diluição ao longo dos séculos e pequenos percentuais de cromossomos de outros continentes podem significar nada. Mas desempregados de pele branca em busca de empregos estão usando tal base para conseguir vagas étnicas nos Estados Unidos. Cidadãos de pele negra também estão se valendo da pesquisa para reclamar heranças nos países europeus. Um cristão americano, por exemplo, está utilizando a técnica para reclamar cidadania israelense. Enquanto isso, americanos brancos procuram identificar DNA indígena para receber benefícios concedidos a descendentes de índios.
Para o sociólogo Troy Duster, da Universidade de Nova Iorque, essa onda não está baseada na busca de informações do passado. Para ele, o que as pessoas querem mesmo "é dinheiro e poder". Empresas de pesquisa genética pipocam pelos Estados Unidos. Os preços variam de U$99 a US$ 250, com promessas de revelar as origens de cada um. Uma das empresas líder no sgmento, a DNA Print Genomics, informa no seu site que a técnica é útil para quem "quer validar sua elegibilidade para admissão em colégios e faculdades ou direitos em admissõs baseadas em critérios raciais".
Durante 16 dias, vou postando aos poucos aqui um pouco de cada reportagem de Amy Harmon, traduzindo o que o tempo apertado me permite.
>>Leia a reportagem completa
Continua amanhã com a reportagem "That Wild Streak? Maybe It Runs in the Family", sobre a influência genética na personalidade e na disposição para correr riscos.
terça-feira, 15 de abril de 2008
Amy Harmon e "A era do DNA" - parte 1
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